A criação da estratégia nacional de formação esportiva para crianças e jovens implica revisar e detalhar o que os estudantes da Educação Básica devem aprender ao longo de sua trajetória escolar no que diz respeito ao esporte.
Essa estratégia abrange três pontos essenciais:
A efetividade da estratégia nacional de formação esportiva depende da existência de espaços apropriados para a prática. É imprescindÃvel assegurar que todas as escolas públicas disponham de infraestrutura básica – quadras, pátios, materiais esportivos e equipamentos acessÃveis – em condições adequadas de uso, segurança e manutenção. Essa prioridade deve estar articulada com os investimentos em educação integral e com os planos nacionais de esporte e educação, de modo a garantir que professores e estudantes tenham meios concretos para aplicar os modelos pedagógicos e de avaliação propostos.
A inclusão do esporte nos principais planos nacionais – de Educação, pela Primeira Infância e de Juventude – é essencial para garantir que a prática de esporte esteja integrada à s polÃticas públicas que acompanham a população brasileira ao longo de toda a vida. Ao se fazer presente nesses planos, o esporte fortalece sua função como direito social, promotor de saúde, educação integral e inclusão social.
O governo federal está elaborando uma estratégia especÃfica para a primeira infância, e este é um momento estratégico para incorporar a polÃtica do esporte nesse plano. O esporte e a atividade fÃsica devem ser entendidos como as dinâmicas corporais com que bebês e crianças pequenas constroem relações com o mundo social, tornando-se agentes ao se apropriarem da própria experiência. O lugar do corpo em movimento é central no projeto pedagógico da educação infantil, pois, nesse perÃodo da vida, fazer é conhecer, e conhecer é fazer. A compreensão do mundo para bebês e crianças pequenas se dá na ação no mundo.
Como estratégia complementar, podem-se desenvolver projetos-piloto em municÃpios que estejam ampliando o acesso à creche e pré-escola, inclusive com aumento do tempo de permanência das crianças nas unidades, gerando modelos replicáveis em outros contextos subnacionais.
— Plano Nacional de Educação
A inclusão do esporte no Plano Nacional de Educação deve se dar em três frentes. A primeira é a abertura de diálogo com os atores que discutem o tema no Congresso Nacional e que atuam na elaboração das diretrizes da Educação em nÃvel federal. A segunda é a identificação dos artigos em que o esporte pode ter papel central, especialmente nas atividades da escola em tempo integral, no desenvolvimento de competências múltiplas e na atuação com jovens do ensino médio, como estratégia para reduzir a evasão escolar e fomentar cursos profissionalizantes na área esportiva. A terceira é a articulação com polÃticas públicas já existentes, como a formação de professores e a estruturação de espaços escolares para práticas esportivas regulares.
— Plano Nacional de Juventude
A implementação do novo ensino médio permite uma tripla abordagem do esporte: como componente da escola de tempo integral; como estratégia de combate à evasão escolar, por sua capacidade de engajamento dos jovens; e como eixo de formação profissional, com alto potencial de empregabilidade e interesse nesse público. Essa articulação é estratégica para conectar juventude, educação e esporte de maneira estruturada.
É também fundamental considerar as dificuldades enfrentadas pela juventude negra periférica, que decorrem de desigualdades históricas e estruturais. Entre os problemas apontados pelo Plano Juventude Negra Viva (Brasil, 2024), destacam-se a falta de espaços seguros para lazer e prática esportiva, a ausência de polÃticas integradas e intersetoriais, a falta de mecanismos que incentivem o protagonismo juvenil e a escassez de profissionais capacitados para atuar nas comunidades. A demanda por espaços públicos de lazer e esporte também está intimamente ligada à questão da segurança pública e ao uso dos espaços no perÃodo noturno.
Para ampliar o alcance e o impacto das polÃticas, é necessário superar abordagens salvacionistas e seletivas e reconhecer o esporte como instrumento de fortalecimento da cultura corporal local, de construção de vÃnculos e de capacidades coletivas. Isso requer programas baseados em projetos pedagógicos emancipatórios e participativos, com acesso qualificado e seguro à s práticas esportivas, participação ativa dos jovens e capacitação de gestores e educadores para garantir que os programas sejam seguros, integrados à s redes de proteção locais e capazes de responder aos fatores de risco presentes em territórios marcados por múltiplas formas de violência.