A gestão e o uso eficiente dos espaços públicos para a prática de esporte, especialmente para adultos e idosos, dependem de redes de parcerias locais que integrem poder público, iniciativa privada, organizações da sociedade civil, Sistema S e a própria comunidade. A estrutura física desses espaços — como praças, quadras, ginásios, centros esportivos e estruturas escolares — é frequentemente resultado de ações específicas, com pouca articulação entre os diferentes atores. Para que esses ambientes cumpram seu papel de promover um estilo de vida ativo ao longo da vida, é necessário ir além da construção ou reforma: deve-se garantir a programação regular de atividades, com qualidade, segurança e participação da comunidade.
A descentralização da gestão e a atuação colaborativa são essenciais para atender às necessidades locais e fortalecer o vínculo da população com esses espaços. A presença de conselhos locais, o controle social e a participação ativa da comunidade devem fazer parte de uma governança compartilhada que promova o pertencimento e estimule a prática esportiva. Parcerias locais permitem otimizar recursos, ampliar o alcance das ações e garantir a sustentabilidade das iniciativas. A atuação conjunta de setores pode mobilizar investimentos, impulsionar a criação de eventos e programas contínuos e contribuir para cidades mais inclusivas, saudáveis e ativas.
Essa estratégia está alinhada ao Plano de Ação Global para o Exercício Físico (GAPPA 2018-2030), da Organização Mundial da Saúde (OMS), que propõe metas de redução da inatividade física e recomenda ações coordenadas para tornar sociedades, ambientes, sistemas e pessoas mais ativos, utilizando uma abordagem sistêmica. Nesse sentido, é possível motivar a realização de campanhas públicas, ações intersetoriais e programas locais de governança que promovam a valorização dos espaços públicos e da prática regular de atividades físicas ao longo da vida. Assim como a OMS, a UNESCO — por meio do programa “Fit for Life” criado em 2021 — tem apoiado programas de esporte e atividade física que promovam estilos de vida mais saudáveis em um contexto de aumento do sedentarismo e transtornos de origem física ou mental. Entre as prioridades definidas para seus 194 países-membros, a UNESCO tem defendido a promoção de estilos de vida mais saudáveis, a redução das desigualdades no esporte, o fortalecimento da educação física de qualidade nos sistemas de ensino e o apoio a políticas públicas baseadas em evidências.
As parcerias entre o poder público, o setor privado e as organizações da sociedade civil são fundamentais para ampliar o acesso da população adulta e idosa à prática regular de esporte. Ao integrar diferentes atores e fontes de financiamento — como leis de incentivo, fundos públicos e investimentos privados — cria-se um ambiente favorável à implementação e sustentabilidade de programas de esporte para toda a vida.
O fortalecimento dessas parcerias deve considerar a qualificação das organizações da sociedade civil, a articulação entre setores como saúde, assistência social, educação, meio ambiente e esporte, e a constituição de arranjos de gestão colaborativa nos municípios. A gestão integrada por conselhos intersetoriais pode contribuir para organizar a oferta, alinhar metas e evitar a fragmentação das ações.
O envelhecimento da população brasileira reforça a importância de iniciativas voltadas à longevidade com saúde. A expectativa de vida, que era de 54 anos em 1960, passou para mais de 76 anos em 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2024). Esse cenário demanda a ampliação de programas de esporte com foco em qualidade de vida, bem-estar e prevenção de doenças, especialmente em espaços comunitários, unidades de saúde e equipamentos públicos, que devem contar com profissionais qualificados e com um calendário regular de atividades. Garantir a intersetorialidade e parcerias com universidades, institutos federais e organizações sociais é estratégico para a formação, implementação e acompanhamento desses programas.
Além do esporte voltado para pessoas idosas, também é fundamental considerar a participação de adultos, com políticas que incluam um recorte específico para a inclusão de mulheres, que historicamente enfrentam barreiras significativas para se engajar em atividades físicas. Entre os principais motivos estão os estereótipos nocivos de gênero — traduzidos na visão de que as mulheres são menos fortes, competitivas ou capazes de praticar certos esportes, limitando suas escolhas e afastando-as da prática; na pressão para se encaixarem em um padrão de beleza; no medo de serem vistas como “masculinizadas”; e na falta de tempo.
Um diagnóstico da ONU Mulheres (2025) mostra que 70% das mulheres entrevistadas deixaram de praticar esportes devido à sobrecarga com tarefas não remuneradas de cuidado doméstico e familiar. Essa realidade evidencia a necessidade de políticas e programas de esporte que ofereçam horários flexíveis, infraestrutura adequada, modalidades adaptadas e mecanismos de apoio para o cuidado, além de campanhas para desconstruir estereótipos e criar uma cultura esportiva mais inclusiva, permitindo que mulheres adultas participem de forma efetiva e contínua da prática esportiva. As parcerias também devem favorecer a criação de redes de diálogo e troca de boas práticas, fortalecendo os laços comunitários e promovendo soluções inovadoras para remover barreiras ao acesso e à permanência. Dessa forma, o esporte ultrapassa a dimensão da prática e se consolida como ferramenta de inclusão, desenvolvimento humano, sustentabilidade social e promoção de modos de vida mais ativos.
A organização comunitária é um fator essencial para a promoção de práticas esportivas e corporais conectadas às realidades e culturas locais. O futebol, com suas ligas amadoras presentes em praticamente todos os municípios do país, é um exemplo claro de como a cultura esportiva se enraíza nas comunidades e se organiza de modo autônomo e contínuo ao longo da vida. Essa lógica também se aplica a outras modalidades que se fortalecem com base na identidade local, como o surfe e o futevôlei nas regiões litorâneas, o skate nos centros urbanos, os esportes de quadra nas escolas e os esportes indígenas, que expressam saberes e valores tradicionais dos povos originários.
A promoção da diversidade esportiva, quando liderada pelas próprias comunidades, contribui para a valorização das tradições locais, amplia o acesso à prática e fortalece os vínculos sociais. Para isso, é necessário reconhecer e apoiar as iniciativas que já existem e criar condições para que novas redes se desenvolvam.
A mobilização comunitária requer:
A criação de comissões comunitárias articuladas com os municípios fortalece o protagonismo local na gestão de atividades esportivas e culturais. Também é possível estimular modelos de gestão compartilhada, com base em experiências nacionais e internacionais, que promovam a corresponsabilidade entre o poder público, o setor privado e a sociedade civil.
No Plano Nacional de Saúde, o esporte deve ser tratado como ferramenta estratégica de promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, conforme diretrizes da OMS. É importante fortalecer e ampliar programas de atividade física e vidas ativas na atenção primária, inclusive com equipes de saúde da família treinadas para estimular a prática regular nos territórios, de maneira integrada à gestão dos equipamentos públicos.